Smart cities ou, utilizando o mesmo termo na língua portuguesa, cidades inteligentes tem avançado em termos de casos de sucesso no Brasil e em diversos lugares do mundo. Por isso, o conceito tem estado em voga tempos. Neste contexto global, competitivo e altamente tecnológico, podemos ir por dois caminhos: ou repensamos a forma como estamos conduzindo nossas cidades e população ou, em pouco tempo, as desigualdades social e econômica criarão um abismo ainda maior o já existente. Infelizmente, o maior impacto acaba afetando, em especial os que estão mais vulneráveis, neste momento.
Dado o caminho de mudança estrutural necessária nos sistemas de saúde púbica e privada, pensar de forma sistêmica e com ênfase na jornada do paciente (cliente) de forma proativa, preventiva e preditiva é essencial para a sua sustentabilidade.
Jocelito André Salvador
Conducere Intelligent Health
Você já ouviu falar em Smart cities?
Ao falar de cidades inteligentes, pode ser que o primeiro pensamento que venha seja: OK, isso é uma preocupação que cabe ao poder público, ao Estado.
Será mesmo?! Vamos avançar um pouco mais.
Aliás, o que lhe parece se afirmarmos que há uma relação íntima e totalmente conectada entre cidades inteligentes e saúde e bem-estar (ou simplesmente healthcare)?
Além disso, que este elo impacta no cotidiano de todo o ecossistema da saúde. Então, essa “preocupação” deve ser de toda a cadeia de valor. Isso quer dizer que são responsáveis, pelo sucesso ou insucesso: governo, instituições de saúde, operadoras de saúde, empresas, representantes da sociedade civil, enfim, de toda a sociedade!
Edição especial do Fala Especialista
Contudo, para trazer evidências e embasamentos em todas essas ideias e pensamentos, neste último Fala especialista de 2023, convidamos o nosso CEO, Jocelito André Salvador, para conversar conosco sobre: Smart cities & Healthcare: desafios, oportunidades e perspectivas para 2024.
Porém, também temos uma dica muito especial para você!
Assim sendo, aceite este convite para acompanhar a entrevista que o nosso Conselheiro Técnico, Claudio Tafla, concedeu à CBN Maringá, tratando deste assunto. Vale a pena conferir.
CONDUCERE: Para iniciar nossa conversa, o que realmente é uma smart cities e como é possível relacionar ela com healthcare?
Jocelito A. Salvador: O conceito de smart cities, ou cidades inteligentes, vem ganhando repercussão mundial mais fortemente a partir do início do século XXI.
Muito embora, tal conceito abarque duas correntes de pensamento distintas: uma delas compreende a cidade inteligente como aquela que é hiper tecnológica, especialmente no que se refere às TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação); outra compreende o mesmo conceito a partir de cidades intensivas em conhecimento humano.
CONDUCERE Explica: as duas visões aceitas, de entendimento, sobre smart cities
1. Estadunidense: defende que o maior ativo é a tecnologia da informação e comunicação. Portanto, uma cidade inteligente é aquela que está totalmente conectada pela IoT (Tecnologia das Coisas). Lâmpadas inteligentes e ampla captura de dados e sua gestão são uma aplicação possível.
2. Europeia: esta visão, a qual a Conducere é partidária, entende que a tecnologia deve ser o suporte, mas não a essência. O ativo principal são as pessoas e seu conhecimento. Por isso, há sim a captura e gerenciamento dos dados, mas estes servem para tornar ainda melhor a vida da população. Por exemplo, uma sinaleira inteligente que ao perceber o movimento de um idoso ou de um portador de dificuldades, ou mesmo de uma gestante ou mãe com carrinho de bebê, demora mais para abrir o sinal para os automóveis prosseguirem seu percurso.
CONDUCERE: Muito interessante conhecer estas duas visões. Aparentemente, o que mais se destaca no Brasil é a estadunidense, ou seja, cidades com ênfase no aporte tecnológico. Todavia, qual é o posicionamento da Conducere entre estas duas vertentes?
Jocelito A. Salvador: Particularmente, defendemos com mais ênfase a segunda visão, muito embora não possamos, de forma alguma, ignorar o impacto das TICs em nossas cidades e organizações.
Assim, a relação com a saúde e o bem-estar justifica-se, especialmente no Brasil, o qual tem dimensões continentais e um sistema de saúde de alta qualidade muito concentrado em alguns centros urbanos mais desenvolvidos.
Para além disto, há dados divulgados pela Agência de Notícias IBGE, em abril.22. Com efeito, estes demonstram a importância de uma visão sistêmica com relação à saúde e ao bem-estar. Vejamos.
Dados do IBGE sobre despesa com saúde (2022):
- As despesas de consumo com saúde no Brasil somaram R$ 711,4 bilhões em 2019. Isso equivale a 9,6% do PIB do país naquele ano.
- Já as despesas com saúde no Brasil, enquanto proporção do PIB (9,6%), não se diferenciam muito da média (8,8%) de países selecionados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). No entanto, ficam abaixo da participação de alguns deles, como Alemanha (11,7%), França (11,1%) e Reino Unido (10,2%).
- No entanto, em 2019, a despesa per capita com o consumo de bens e serviços de saúde de famílias e instituições sem fins lucrativos alcançou R$ 2.035,60, enquanto a do governo foi de R$ 1.349,60.
Os dados acima foram extraídos do site: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/33484-despesas-com-saude-em-2019-representam-9-6-do-pib
CONDUCERE: Através deste dados oficiais, obtidos do IBGE, podemos afirmar, de maneira enfática, pois sabemos de todo o contexto estrutural do Brasil, que o problema não é essencialmente a quantidade de recursos, mas a forma de aplicação. Neste sentido, seria possível dizer que aliar cidades inteligentes e saúde e bem-estar, geraria um melhor aproveitamento deste recurso disponível? Qual é a sua sugestão?
Jocelito A. Salvador: Trabalhar o ecossistema de saúde, ou seja, envolver as principais partes interessadas em prestar ou consumir serviços de saúde. Dessa forma, é possível fazer com que todas as partes percebam que estão interligadas e interdependentes.
Além do que, trabalhamos alguns aspectos neste ecossistema local/regional de saúde:
- Aportar conhecimento, com vistas à lifelong learning.
- Permitir que os processos da saúde sejam proativos, preventivos e preditivos.
- Compreender o perfil epidemiológico da população envolvida.
- Gerar indicadores de acompanhamento da gestão da saúde.
- Fazer com que o acesso à saúde e ao bem-estar sejam ágeis, eficazes e sustentáveis.
CONDUCERE Explica: conceito de Lifelong Learning
Para saber mais sobre essa neuroplasticidade do cérebro, indicamos o artigo: Aprendizagem x treinamento
CONDUCERE: No início dessa conversa, foi comentado que apesar de se imaginar que smart cities e saúde e bem-estar é um assunto de Estado, sugerimos que se retire o pensamento de "exclusivamente do Estado" para "também do Estado". Dessa forma, no seu entendimento, quem seriam os atores que devem ser envolvidos para que haja possibilidades da implantação do conceito de smart cities e healthcare?
Jocelito A. Salvador: Compreendemos que a relação de cidades inteligentes e saúde e bem-estar deve incentivar que se pense de forma sistêmica os processos da saúde. Assim, miramos em:
- Instituições de saúde (hospitais, clínicas, laboratórios)
- Operadoras de saúde suplementar
- Entidades empresariais
- Empresas (individualmente)
- Poder público municipal.
Há uma ênfase especial que nos motiva: focar na jornada de saúde das pessoas, especialmente para buscar que ela se torne cada vez mais ágil, eficaz e sustentável.
CONDUCERE: A saber, o que você quer dizer com jornada de saúde das pessoas?
Jocelito A. Salvador: Com isto quero dizer que há a necessidade do cliente (paciente) conseguir acessar o sistema de saúde seja para uma consulta, um procedimento cirúrgico, um exame etc. de forma ágil, o mais descomplicada possível.
Contudo, não adianta ser ágil se não for eficaz, ou seja, que se mire no melhor desfecho para o caso específico daquela pessoa. Por exemplo, quem vai procurar uma consulta médica espera que haja senão um diagnóstico conclusivo, imediatamente, o melhor encaminhamento possível para a solução do seu caso.
Porém, ser ágil, eficaz, mas insustentável também não adianta. Basta ver como está o nosso sistema de saúde (público ou privado) hoje. Salvo raras exceções, as instituições de saúde lutam para se manterem vivas no dia a dia, os profissionais da saúde procuram manter minimamente a sua valorização e por outro lado, as fontes pagadoras, sejam as pessoas físicas, empresas ou o poder público reclamam dos altos custos que não param de subir. Fato que não é só reclamação, muitas pessoas chegam ao ponto de não conseguir manter o seu plano de saúde suplementar e ficam totalmente dependentes do sistema de saúde público, o qual, via de regra, se considera sobrecarregado.
Assim, devemos pensar, seriamente, de forma sistêmica e de forma que a jornada do cliente (paciente) seja, de fato, ágil, eficaz e sustentável (para todas as partes envolvidas).
CONDUCERE: Qualquer ação diferente que produza resultados satisfatórios, podemos considerar como uma inovação. Logo, ao ampliar estes conceitos, pode-se dizer que cidades que se apropriam e se tornam uma cidade inteligente com uma visão direcionada para saúde e bem-estar, estão sendo inovadoras. Contudo, toda a inovação, gera uma resistência humana natural. Por isso, em muitos lugares, imagina-se que estes conceitos só são passíveis de serem aplicados em grandes centros urbanos. Você concorda com esta visão, qual seja, que somente grandes e ricas cidades podem ser inteligentes?
Jocelito A. Salvador: Não necessariamente. O que separa as possíveis cidades inteligentes, das que não alcançam este modelo diferenciado de gestão e de propósito, é, em grande medida a cultura de gestão e da inovação. Por óbvio, que a infraestrutura disponível é parte fundamental, mas não é o fator decisivo.
Acredito que faça sentido pensarmos no conceito da Pirâmide de Maslow.
CONDUCERE: Por certo, faz todo o sentido. Todavia, poderia exemplificar essa relação, qual seja, de Maslow com as smart cities?
Pense numa cidade que não é autossuficiente e que a população é amplamente vulnerável. Propor para que haja um investimento tecnológico e de melhoria imediata de gestão, seria um tanto utópico. Todavia, pode-se, sim, iniciar com algumas mudanças em políticas públicas estratégicas para a sociedade, para que em futuro próximo, naturalmente, dentro das suas limitações naturais, seja possível que esta cidade dê passos firmes e seguros rumo a se tornar uma smart city ou se deixar influenciar/beneficiar por uma, que esteja conectada a ela.
Entretanto, nós da Conducere, neste primeiro momento, miramos, preferencialmente, em cidades que tem 100K a 300K. A partir delas, também vamos chegar nas cidades que estão na sua região de influência.
Hoje, segundo o último censo do IBGE, temos 232 cidades brasileiras com estas características, ou seja, tem entre 100.000 e 300.000 habitantes.
Isto significa que a população diretamente impactada é de aproximadamente 46,4 milhões de pessoas, ao considerar somente a população destas 232 cidades.
CONDUCERE: Por que faz sentido pensar a partir da tese de correlação entre smart cities e healthcare? O que está previsto para 2024?
Jocelito A. Salvador: Dado o caminho de mudança estrutural necessária nos sistemas de saúde púbica e privada, pensar de forma sistêmica e com ênfase na jornada do paciente (cliente) de forma proativa, preventiva e preditiva é essencial para a sua sustentabilidade.
Podemos, sem dúvida nenhuma, utilizar de forma mais sustentável o valor de R$ 711,4 bilhões aplicados em saúde, tendo como base o divulgado pelo IBGE, referente à 2019.
Há exemplos deste movimento tanto na Europa, em especial um case em Portugal com a Healthy Smart Cities, como na América do Norte com a OAK Street Health no EUA.
Assim, deve-se esperar em 2024 um avanço significativo da ciência de dados e, em especial, da IA (inteligência artificial) e da nossa parte vamos ampliar a discussão destes temas a partir do FIECI (Fórum de Inovação, Empresas e Cidades Inteligentes).
Entrevista com nosso Board Member, Claudio Tafla, sobre smart cities
Sobre essa relação de Smart Cities & Healthcare, o dr. Claudio Tafla, nosso conselheiro técnico (board member), foi entrevistado pela Rádio CBN de Maringá.
Nesta entrevista, ele conversou sobre o impacto da smart cities na gestão da saúde e populacional dos municípios, além de exemplificar como as cidades inteligentes oportunizam interações saudáveis e produtivas no ecossistema.
Para acessar essa entrevista, acesse aqui!
Pode-se entender as smart cities de duas formas: (aplicar) a tecnologia para atuar na vida das pessoas, ou (agregar) a inteligência, utilizando a tecnologia para promover a saúde e o bem-estar das pessoas.
Dr. Claudio Tafla
Board Member - Conducere Intelligent Health
Jocelito André Salvador
CEO e Founder da Conducere Intelligent Health speaker, mentor e assessor, possui especialização em educação corporativa, com ênfase gestão do conhecimento e inovação.
Claudio Tafla
Médico executivo, professor Universitário e Conselheiro Técnico da Conducere Intelligent Health. Ex- presidente da ASAP – Aliança para a saúde populacional.
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