Será que é possível utilizar-se sempre da aprendizagem baseada em problemas na educação corporativa?
Quem nunca, quando criança principalmente, ouviu a célebre frase dos pais: “não adianta falar, que não aprende mesmo! ”.
O interessante é que alguns pesquisadores foram pesquisar sobre isso e descobriram que é a mais absoluta verdade!
Aprendizagem baseada em problemas
Em 1960, na Universidade McMaster do Canáda e na Maastricht da Holanda, surgiu para as escolas de Medicina, a aprendizagem baseada em problemas. Esta também é conhecida como PBL ou ainda ABProb. Neste tipo de abordagem, a ideia é que cada tema seja transformado em um problema a ser discutido em grupo e tutorado por um assessor.
Aprendizagem baseada em projetos
Já a aprendizagem baseada em projetos, uma denominação utilizada pelas áreas da computação, administração, engenharias, entre outras, no lugar de apenas transformar o tema num problema, os aprendizes são envolvidos em tarefas e desafios para a resolução de problemas. Com isso, o desenvolvimento cognitivo é exigido, com ênfase no pensamento crítico e analítico.
Entretanto, é importante que nos questionemos, é possível aplicar este tipo de aprendizagem em qualquer modelo e em qualquer contexto?
Ao tratar de aprendizagem de adultos (andragogia), a ênfase estará em solucionar problemas, pois afinal, um adulto só se motivará a aprender se o assunto for de seu interesse.
Aqui cabe um parêntese. A aprendizagem ocorre quando conseguimos transformar a informação ou dado em conhecimento. Para a transformação em conhecimento, a nova informação precisa ser tratada como relevante. Caso contrário o cérebro automaticamente a descartará. Quem determina essa “relevância” são as sinapses, que são construídas com base em nossas experiências. Então, descobrir formas diferentes de resolução de uma determinada situação, facilita essa ação dos neurotransmissores e por consequência diminui o tempo da nossa curva de aprendizagem.
Essa curva de aprendizagem se refere ao tempo que qualquer pessoa levará para absorver a nova informação, processo ou mesmo tarefa e colocá-la em prática.
Então, quando nossa audiência é o adulto, devemos sempre utilizar a aprendizagem baseada em problemas ou em projetos?
Para responder essa questão, vamos lembrar dos níveis de domínio cognitivo e para nos ajudar, busquemos Benjamim Bloom com a sua taxonomia:
Percebe que existem níveis diferentes na escada da aprendizagem? Partimos do degrau lembrar até o último, que é criar.
Você imagina que é possível utilizar a mesma estratégia didática para todos os níveis?
Ainda neste contexto, será que poderíamos exigir de um aprendiz que solucionasse um problema se ele não tem a menor ideia do que significa e de como poderia aplicar essa “descoberta” no seu dia-a-dia?
Pense no seguinte, você decide investir em ações e ao chegar na corretora a mesma diga para você: crie sua carteira que nós a administraremos. Imagino que você poderá tomar duas atitudes:
- Solicitar ajuda ao analista para que o mesmo o oriente a entender (segundo nível cognitivo) como funciona o mercado de ações ou mesmo indique algumas bibliográficas básicas sobre isso e se ele pode fazer um coaching ou mentoring com você.
- Procurar outra corretora.
Isso quer dizer que caso nossos aprendizes não tenham nenhuma, ou pouca, informação sobre o assunto, o mais assertivo não é submetê-los a este nível cognitivo.
Neste sentido, como utilizar esta inovação educacional?
Uma ideia bacana é sempre no momento do planejamento das ações educacionais, pensar em como unir ferramentas e tecnologias, para atingir o objetivo de facilitar o processo de ensino e aprendizagem.
Por exemplo, você já ouviu falar em blended learning?
Blended learning, ensino híbrido ou semipresencial é uma metodologia que vem ganhando espaço no mundo educacional, tanto no formal (escolas, faculdades, universidades), quanto no informal (educação corporativa, cursos livres). O seu foco está em analisar o que pode ser utilizado na modalidade online e o que é imprescindível, para o desenvolvimento pessoal, que seja realizado com encontros presenciais.
Em relação à aprendizagem baseada em problemas ou projetos, você concorda que este formato se adequa perfeitamente? Afinal, é possível alinhar conceitos através de uma instrução à distância e nos encontros presenciais fomentar problemas baseados no conteúdo abordado.
Uma sugestão próxima a esta é a sala de aula invertida ou flipped classroom. A técnica dessa ferramenta é antecipar para o aprendiz o conteúdo para que o mesmo já tenha o entendimento do que será tratado, e nos encontros presenciais criar cenários para este novo conhecimento seja aplicado.
O estudo híbrido encontra um ambiente favorável na educação corporativa, pois consegue conectar a velocidade das informações, através da modalidade online com as comunidades de práticas (ambiente colaborativo para trocar ideias sobre como melhor resolver determinada situação e após disseminar esta aprendizagem) e ambientes de aprendizagem (grupo de pessoas que visam alinhar e definir novos conceitos), pelo encontro na modalidade presencial.
Na educação formal ainda há um entrave, apesar das tendências apontarem para uma educação mais ativa e disruptiva. Contudo, a legislação e os paradigmas de algumas IES, no Brasil, boicotam essa evolução educacional. Uma constatação para esta afirmação foi o polêmico Ato Regulatório da Educação a Distância, discutido desde 2009 e publicado no dia 09 de março de 2016, que frustrou entidades que esperavam uma redação um pouco menos arcaica para o que a realidade educacional atual exige.
Tendências, técnicas, modelagens e ferramentas educacionais
Existem várias tendências, técnicas, modelagens e ferramentas educacionais disponíveis, que aceleram ao atrapalham o processo de ensino e aprendizagem. Para uma definição adequada da sua próxima ação educacional que tal usar um design thinking e embasa-lo em um projeto de design instrucional?
Veja que os modelos educacionais têm avançando e as inovações tem nos trazido grandes ideias e exemplos de como facilitar a aprendizagem de nosso público-alvo. Talvez, no momento de construir o seu plano educacional você tenha dificuldade de encontrar o que dentro desse universo atenda a sua necessidade específica. Contudo, isso é uma situação que gera muito conhecimento e aprendizagem, não é mesmo?
Repense a forma de submeter aqueles que confiam no seu processo educacional para aprender. Lembre-se que fazer a mesma coisa e querer resultados diferentes é insano, concorda?
Aceite o desafio! Quais inovações educacionais você pode utilizar no seu próximo planejamento educacional?
Referências bibliográficas:
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SALVADOR, Valeska Schwanke Fontana. Como o DI se relaciona com as inovações educacionais.